Uma das formas de reconhecer e valorizar a nossa herança africana é conhecê-la melhor. Para isso, o turismo antirracista se torna um importante intermediário, permitindo que a gente conheça lugares incríveis como a Pequena África (RJ).
Essa região fica no centro do Rio de Janeiro e tem diferentes pontos que contam sobre o que negros escravizados passaram durante o período colonial.
Recentemente, eu visitei alguns lugares desse Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana e é sobre isso que vou falar neste artigo.
Cais do Valongo e da Imperatriz
A primeira parada da Pequena África (RJ) é o Cais do Valongo e da Imperatriz, localizados na Praça Jornal do Comércio. A estimativa é que, entre os séculos XVIII e XIX, mais de um milhão de pessoas africanas, principalmente do Congo e da Angola, tenham desembarcado pelo Cais do Valongo para serem escravizadas no Brasil.
Após a proibição do comércio transatlântico de escravizados, o local sofreu algumas transformações e, em 1843, passou a se chamar Cais da Imperatriz, em homenagem à chegada Teresa Cristina de Bourbon, que, na época, era noiva do futuro imperador D. Pedro II.
Em 1911, o Cais foi aterrado e só com as obras do Porto Maravilha, em 2011, o local foi redescoberto. Como você pode ver, a história negra do nosso país é constantemente apagada, mas, ainda assim, ela aparece, mesmo que possa demorar um século.
Pedra do Sal
Outro lugar importante do Circuito Histórico e Arqueológico da Celebração da Herança Africana é a Pedra do Sal. Atualmente, o local é palco de roda de samba toda segunda-feira, mas é importante também falar sobre o que aconteceu ali durante o período colonial.
O nome desse lugar é por causa do descarregamento de sal realizado por africanos escravizados no século XVII. As escadas da pedra serviam para facilitar a locomoção durante essa tarefa.
É nessa região que também existe o Quilombo da Pedra do Sal, sendo reivindicado por ele como um lugar de moradia e celebração.
Jardim Suspenso do Valongo
Na encosta do Morro da Conceição está o Jardim Suspenso do Valongo, localizado a sete metros acima do nível da rua. O local foi construído com o objetivo de embelezar a região durante a reforma de Pereira Passos.
Esse jardim tem estátuas de divindades romanas que, antes, ficavam no Cais da Imperatriz. No centro do Jardim Suspenso do Valongo ainda existe uma casa que foi usada como local de venda de africanos.
Largo do Depósito
Bem próximo do Jardim Suspenso do Valongo está o Largo do Depósito, importante ponto da Pequena África (RJ), que hoje em dia se chama Praça dos Estivadores. Foi nessa região que existiam depósitos e lojas focadas na venda de africanos escravizados.
Inclusive, foi nesse largo que havia as chamadas Casas de Engorda, onde os africanos recém-chegados ficavam para que ganhassem peso e, assim, ficassem mais valorizados e pudessem ser vendidos.
Cemitério dos Pretos Novos
No Rio de Janeiro existiram dois cemitérios de pretos novos. Os pretos novos eram os africanos que morriam durante a embarcação ou assim que chegavam ao país. Então, eram incinerados e jogados uns sobre os outros dentro de valas comuns.
No final da década de 90, um casal estava realizando uma reforma na casa deles e descobriu ossadas. Acionaram as autoridades e descobriram que ali foram enterrados homens, mulheres e crianças africanas.
A estimativa é de que 20 mil a 30 mil pessoas tenham sido enterradas nesse cemitério. Além dos ossos, encontraram também pertences desses africanos.
Hoje em dia, o local se transformou no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos, funcionando como um centro cultural destinado à divulgação da história africana no Rio de Janeiro.
Centro Cultural José Bonifácio
O último ponto do circuito pela Pequena África (RJ) é o Centro Cultural José Bonifácio. Ele foi construído em 1877 com o objetivo de fornecer educação gratuita para a população da Zona Portuária. Inclusive, esse foi o primeiro colégio público de toda a América Latina.
A escola foi desativada em 1977, originando a Biblioteca Popular Municipal da Gamboa, tornando-se uma referência no estudo da cultura afro-brasileira.
Apesar de morar no estado do Rio desde sempre, eu nunca havia escutado sobre esses lugares – no máximo, eu sabia da Pedra do Sal, porque quem gosta de samba sempre comenta sobre o lugar, mas não sobre a sua história.
Conhecer o nosso passado é fundamental para entender o nosso presente e, assim, tentar construir um futuro melhor, bem longe de todas as atrocidades cometidas aos negros durante o período colonial.
Por isso, eu recomendo muito que vocês visitem a Pequena África (RJ) e se deem a oportunidade de conhecer melhor a herança africana no Brasil e, em especial, no Rio de Janeiro.
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