Por trás dos locais com potencial turístico, existem histórias e personagens invisibilizados. O turismo étnico vem para quebrar essa invisibilidade e reconhecer o povo como protagonista.
Nessa modalidade de turismo, o viajante procura se conectar com a comunidade local e, muitas vezes, com a sua própria ancestralidade. Então, os benefícios desse contato aparecem para todos os envolvidos.
Por isso, neste artigo, vou explicar o que é o turismo étnico, qual é a sua importância para a população local e para os turistas, e exemplos de empresas que realizam essa iniciativa.
O que é o turismo étnico?
O turismo étnico é uma forma de valorizar determinado grupo étnico, em que os viajantes têm contato com o patrimônio material e imaterial desse povo. De acordo com o Ministério do Turismo:
“Esse tipo de turismo envolve as comunidades representativas dos processos imigratórios europeus e asiáticos, as comunidades indígenas, as comunidades quilombolas e outros grupos sociais que preservam seus legados étnicos como valores norteadores de seu modo de vida, saberes e fazeres.”
Então, o turismo étnico surge quando o povo é o principal motivo pelo qual as pessoas decidiram viajar. Nesse caso, os turistas buscam uma relação de proximidade com os anfitriões, participam de tarefas do dia a dia, observam os seus costumes e estilo de vida.
Mas esse tipo de viagem também pode ser uma forma de resgate da ancestralidade. Ou seja, conhecer melhor a própria história, então, nem sempre, é possível ter contato com o povo, mas, ainda assim, ele segue sendo o protagonista.
Esse é o caso do turismo em Palmares (Alagoas) que, como destaca Guilherme Dias, ainda não foi consolidado como um destino turístico amplamente desejado pelos turistas. O local é um dos principais marcos da resistência dos sujeitos escravizados no Brasil, então, visitá-lo significa se conectar com os negros refugiados que sofreram a escravidão.
Além de ser um exemplo de turismo étnico, uma viagem para Palmares faz parte do afroturismo, no qual a população negra é o foco. Esse tipo de turismo pode ser praticado por qualquer um que deseje conhecer a fundo a cultura e a história do povo negro.
Qual é a importância do turismo étnico?
Esse tipo de turismo vai na contramão do turismo de massa, também chamado de overtourism, já que, nele, o viajante busca uma imersão durante a sua viagem. E isso traz benefícios para a comunidade local. Veja só quais são eles.
Geração de renda
O turismo étnico é uma oportunidade da população local valorizar a própria história ao mesmo tempo em que ganha dinheiro com isso.
Existem comunidades quilombolas e indígenas, por exemplo, que passam por dificuldades financeiras, então o turismo étnico se revela como uma forma de desenvolver a economia local.
Assim, os moradores não são obrigados a buscar emprego fora da região para garantir a própria sobrevivência, então, podem continuar no seu local de origem e com os seus hábitos culturais, caso essa seja a vontade deles.
Valorização do povo
Quando aprendemos a história do nosso país, é importante ter em mente que ela foi contada do ponto de vista dos dominantes. Como já disse George Orwell: “a história é escrita pelos vencedores”.
Então, conhecer de perto a história por quem foi marginalizado durante séculos nos ajuda a rever as nossas crenças, ou seja, o que acreditávamos ser a verdade, e abre um novo leque de reflexões e críticas sobre o nosso povo.
Portanto, o turismo étnico é uma chance que as minorias têm de contar a própria história, por isso, elas se veem valorizadas nesse processo, já que foram deixadas de lado por muito tempo.
E para os viajantes?
O turismo étnico é praticado por quem deseja conhecer o outro de um modo aprofundado. Portanto, é uma busca por imersão em uma forma de vida que antes era desconhecida.
Isso traz ganhos imateriais para quem participa da experiência, pois o viajante leva para a casa lembranças que não podem ser tocadas. Esse tipo de turismo é capaz de fazer a pessoa reavaliar o seu modo de vida, os seus valores e, até mesmo, se revelar como um largo passo na caminhada pelo autoconhecimento.
Aliás, como o turismo étnico, muitas vezes, é praticado por quem deseja conhecer melhor a sua ancestralidade, ele se mostra como uma das maneiras mais eficazes de entender como era a vida de quem veio antes de você e, de certa maneira, permitiu que você estivesse aqui hoje.
Portanto, esse turismo promove a interação entre diferentes culturas e o aprendizado que é fruto dessa relação consegue transformar a vida de quem participa dela.
Como praticar o turismo étnico?
Para fazer o turismo étnico, você pode pesquisar, por conta própria, locais onde os grupos étnicos oferecem esse tipo de experiência. Outra forma de fazer isso é entrar em contato com iniciativas que promovem esse encontro. Confira algumas delas:
- Brafrika Viagens: oferece viagens para Ouro Preto, Salvador e Rio de Janeiro, cujo objetivo é trazer à tona a história do povo negro;
- Diaspora.Black: plataforma parecida com o Airbnb, em que os turistas se hospedam em casas de pessoas negras e conseguem compartilhar experiências;
- Afrotour: agência baiana que realiza passeios com foco nas religiões de matriz africana;
- Alagoas Cultural: explora a história negra de Maceió e realiza visitas a Palmares;
- Pataxó Turismo: promove uma rota pelas aldeias Pataxó ao redor de Porto Seguro.
Um detalhe importante sobre o turismo étnico é o tratamento que deve ser feito entre os turistas e a comunidade local. Nesse caso, é fundamental ter respeito pelo outro e não tratá-lo como um animal de zoológico por considerá-lo “exótico”. O propósito deve ser a imersão no patrimônio material e imaterial de um povo e não a sua fetichização.
Como você pôde perceber, o turismo étnico promove ganhos tanto para a população local quanto para os viajantes. Então, em vez de investir no turismo de massa, experimentá-lo, ao menos uma vez, é uma ótima opção.
Gostou deste artigo? Se você quiser conhecer outras diferentes formas de viajar, veja o texto que escrevi sobre o slow travel!
Lendo o post me deu muita vontade de fazer esse turismo étnico. Meeesmo! Vou procurar mais sobre 🙂
Né? Também quero muito fazer!
Eu pude ter essa experiência com indígenas da aldeia Pataxó na Bahia e a sensação é bem como a descrita! É uma vivência inesquecível, de muito aprendizado. Quero muito poder repeti-la com outros povos e culturas diferentes. Esse post tá maravilhoso!!
Eu tô louca pra ter essa experiência!