O que é overtourism? Veja o lado negativo do turismo

Você sabe o que é overtourism? Esse termo foi criado em 2012, mas estourou apenas em 2017, época em que surgiram protestos em nações europeias contra o chamado turismo em massa.

Quando alguém fala sobre turismo, é comum pensar apenas no lado bom, não é mesmo? A economia local crescendo, experiências enriquecedoras para os turistas, mas ele também pode ter um lado ruim protagonizado pelo overtourism.

Esse conceito significa que um lugar está sofrendo com o turismo em massa, ou seja, existem mais pessoas do que a cidade consegue comportar de modo sustentável não só para o ambiente como também para os habitantes.

Como o mundo está passando por um período em que as viagens não estão sendo largamente permitidas devido à pandemia do Coronavírus, é interessante parar pra pensar no modo como nós, viajantes, estamos praticando o turismo. Quer saber mais sobre o assunto? Continue a leitura!

O que é overtourism?

Certamente, você já viu imagens de pontos turísticos lotados, pessoas enfrentando horas em filas para entrar em um lugar ou, se bobear, você mesmo já viveu isso. Acertei? O fenômeno do overtourism tem relação com isso.

Overtourism no Museu do Louvre

O overtourism é a superlotação de turistas em um local que não tem estrutura suficiente para abarcá-los. A consequência disso envolve impactos ambientes, mudanças na própria organização e característica da cidade, migração dos habitantes devido ao encarecimento da cidade e muito mais.

Como disse na introdução, os protestos contra o overtourism surgiram em 2017 na Europa, mas, lá em 1990, já aconteciam manifestações contra o excesso de turista em diferentes lugares europeus, como Itália e Espanha, segundo o especialista Mário Carlos Beni.

Em 2018, Justin Francis divulgou um documentário chamado Crowded Out: The story of overtourism, elucidando bem essa questão. Ele entrevistou habitantes de Veneza que enfrentam problemas diariamente devido ao overtourism, como a dificuldade de comprar de mercadorias ou, até mesmo, atravessar a rua.

Além disso, a cidade está deixando de ser um local para os residentes e se transformando em uma cidade para os turistas. Inclusive, uma moradora destaca:

“Veneza está perdendo a sua identidade, que é exatamente o motivo pelo qual as pessoas desejam visitá-la.” — Marianna Purisiol

Outra cidade que sofre com o overtourism é Barcelona. Para você ter noção da quantidade de turistas que o local recebe, aqui vai um dado importante: em 2017, Barcelona teve 30 milhões de turistas, enquanto o número de moradores era de 1.625.137.

Já imaginou viver em um lugar assim? No documentário, a moradora Fabiola Mancinelli relata que não consegue dormir à noite devido aos barulhos das festas que os turistas fazem.

Turismo em massa: um problema global

Até o momento, dei apenas exemplos de cidades europeias que sofrem com o overtourism. Isso porque os protestos contra esse fenômeno surgiram nesse continente, mas não significa que o turismo em massa seja restrito a ele.

Na verdade, isso está se tornando um problema global, inclusive atingindo cidades pequenas. Na plataforma Responsible Travel, é possível ver um mapa com os principais lugares do mundo que sofrem com o overtourism.

Mapa do Responsible Travel com áreas que sofrem com o overtourism

No documentário, Francis alerta que locais remotos e frágeis estão ameaçados devido ao turismo em massa. Um exemplo é a Gili Trawangan, conhecida como Paradise Island, na Indonésia.

O fotógrafo Thomas Egli inclusive fez um projeto comparando a situação da ilha em 30 anos de diferença. Com 3km de comprimento e 2km de largura, o local recebe mais de um milhão de visitantes por ano.

O que está causando esse fenômeno?

Overtourism no Vaticano

Existem diversas causas para que o overtourism esteja se espalhando pelo mundo, segundo Francis. A seguir, veja quais são elas.

Low-cost

De acordo com o documentário, um dos motivos para o overtourism existir é o surgimento das empresas low-cost, fornecendo passagens aéreas e possibilitando viagens que nunca foram tão baratas.

Sazonalidade

O segundo motivo é a sazonalidade, ou seja, muitas pessoas desejando visitar o mesmo lugar em um mesmo período. Portanto, viajar na alta temporada contribuiria para a disseminação do overtourism.

Demografia

Outra causa é a demografia. Afinal, uma grande quantidade de pessoas no mundo também provoca uma grande quantidade de turistas. Desse modo, é como se existissem mais e mais viajantes a cada ano. E viajando para os mesmos lugares. Na mesma época. Viu o tamanho do problema?

Grandes cruzeiros comerciais

Fora isso, os cruzeiros também se revelam como um fator propício para o overtourism, já que comportam milhares de pessoas em um lugar só e, de repente, desembarcam em uma cidade, superlotando o local.

Mídia digital

A quinta causa, segundo o documentário do Francis, são as pessoas que escrevem sobre turismo, que estimulam as outras a irem para os mesmos lugares. Logo, eu seria uma das causadoras do problema? Espero que não, de verdade.

Desejo que os meus leitores possam fazer viagens de qualidade e baratas com a preocupação de não interferir negativamente na cidade de destino.

Casas compartilhadas

Por fim, o último problema envolve os chamados “home share”, ou casas compartilhadas, como o Airbnb, que nem sempre são regulamentados pelos locais, possibilitando uma grande oferta de aluguéis e, com isso, propiciando também a superlotação.

No entanto, é importante que todo mundo lembre de um detalhe: a indústria do turismo visa crescer constantemente, o que nem sempre está ligado à preocupação com os impactos que esse desejo trará para o ambiente e a população local.

Desse modo, é o Estado quem precisa se posicionar contra o overtourism e adotar meios para evitá-lo. Inclusive já existem países que estão fazendo isso, como você pode conferir a seguir.

Como os governos estão lidando com o overtourism?

Em diversos pontos do planeta, o overtourism tem começado a ser discutido e, inclusive, enfrentado por meio de políticas governamentais. Veja, logo abaixo, como alguns lugares estão lidando com ele.

Machu Picchu (Peru)

Um dos principais símbolos do Império Inca, senão o principal, Machu Picchu passou a ter regras para a visitação como forma de barrar o turismo em massa.

Atualmente, é necessário comprar o bilhete já com o horário da visita, que pode ser: 6h, 7h, 8h, 9h, 10h, 11h, 12h, 13h e 14h. Cada horário tem um limite de pessoas e você não pode entrar no local em outra hora caso não tenha sido a que você comprou. Para quem visitar apenas as ruínas de Machu Picchu, o máximo de tempo para permanecer no local é de 4h.

Veneza (Itália)

Como você pôde perceber, uma das cidades mais atingidas pelo turismo em massa é Veneza. Por isso, o governo tem implementado algumas regras importantes para o turismo.

Os cruzeiros que pesam mais de mil toneladas não podem mais entrar no centro histórico da cidade. Além disso, nenhum cruzeiro pode circular nesse mesmo local. Outra mudança é que os turistas que não dormirem na cidade deverão pagar uma taxa de 10 euros.

Maiorca (Espanha)

Maiorca, que fica no arquipélago das Ilhas Baleares, também já foi palco de vários protestos contra o overtourism que ameaça a beleza natural da região.

Como resposta, o governo estipulou uma taxa de 4 euros por pessoa que se hospedar em Maiorca. Já em relação ao Airbnb, com o objetivo de fortalecer o empreendimento de imóveis locais, muitos aluguéis que estavam disponíveis passaram a ser proibidos.

Dubrovnik (Croácia)

Desde que foi cenário para a série Game of Thrones, Dubrovnik passou a receber bastantes turistas anualmente, muito mais do que a sua capacidade permite. Por isso, o governo estipulou que somente 4.000 pessoas podem visitar a cidade por dia.

Para fiscalizar isso, existem mais de 100 câmeras espalhadas pela região. Outra mudança foi o aumento de 25% na taxa de hospedagem.

Como os turistas podem reduzir os efeitos do overtourism?

Não acredito que os turistas têm o poder de acabar o overtourism, pois, como disse, é o Estado quem deve regulamentar a indústria do turismo.

Nesse sentido, a minha posição como viajante é reduzir os impactos causados pelo overtourism. Para isso, o primeiro passo é identificar os problemas desse fenômeno e perceber como posso não contribuir com ele.

Por exemplo, eu tenho uma agenda bem flexível, então, se quiser muito conhecer um lugar que tem bastante turista e está sofrendo com o overtourism, irei apenas na baixa temporada. Sei que muitas pessoas só têm férias justamente na alta temporada, como julho e dezembro ou janeiro, então, talvez fique inviável adotar esse método.

Nesse caso, que tal conhecer, ao menos uma vez, um lugar que ainda não foi tão visitado? Ou seja, dar preferência a ele e não a uma cidade extremamente turística como Barcelona.

Além disso, será que você precisa mesmo ir para um enorme cruzeiro comercial? Acredita que vai conseguir conhecer bem cada cidade ficando apenas um dia (ou menos que isso) nela?

O Airbnb contribui para o overtourism?

Existem ainda algumas questões que devem ser debatidas quanto a esse tema. Uma delas é o Airbnb. Não vejo a empresa como uma grande vilã nessa história toda, porque ela pode, sim, proporcionar experiências imersivas para os turistas e sustentáveis para o local.

Considero que o problema é quando não há regulamentação alguma e, com isso, existem locatários com diversas casas na mesma cidade com a finalidade de alugá-las para turistas. Assim, diminuem a opção de aluguéis para os moradores, provocando o encarecimento no valor dos imóveis que ainda estão disponíveis.

Outra questão é que os principais lugares que sofrem ou podem sofrer com o overtourism estão se tornando cada vez mais inacessíveis do ponto de vista financeiro. Assim, só uma parcela específica (e bem pequena) da população pode visitá-lo. É o caso de Fernando de Noronha, por exemplo, cuja taxa de preservação diária é R$75,93.

Logo, fica cada vez mais difícil visitar esses lugares. Isso poderia ser evitado se não houvesse a ganância da indústria de turismo, somada aos turistas desrespeitosos.

Reflexões sobre o overtourism

Em qualquer lugar que você vá, é fundamental ter respeito pelo ambiente e pelas pessoas que moram nele. Ao fazer a pesquisa para produzir este artigo, me deparei com diversas situações que me deixaram bem indignada.

Muitas pessoas, quando viajam, entendem que aquele é o momento de sair da rotina, espairecer e, às vezes, agir de forma que jamais agiriam se estivessem em casa.

Em Gili Trawangan, por exemplo, li relatos de pessoas que viram turistas jogando cigarros e garrafas de cerveja no oceano. Será que fariam isso na casa deles? Eu duvido.

Reflita: você gostaria de tentar dormir enquanto turistas no apartamento de cima fazem uma festa barulhenta no meio de semana? Ver lixos jogados pela sua rua?

Enfim, basta se colocar no lugar do próximo para perceber que as pessoas que protestam contra o overtourism não estão reclamando à toa. É essencial que nós, como turistas, saibamos respeitar o lar dos outros.

Com este artigo, pude falar sobre o que é overtourism e o impacto desse fenômeno em diferentes pontos do planeta. Desejo que todo turista – estou incluída nisso, é claro – possa refletir sobre as ações que toma quando vai visitar um lugar e como minimizar os efeitos negativos do turismo. Afinal, o problema não é viajar, mas a forma como nós viajamos.

E você, já visitou algum lugar que sofre com o overtourism? Me conta aqui nos comentários!

4 Replies to “O que é overtourism? Veja o lado negativo do turismo”

  1. Que legal essa matéria! Abriu meus olhos pra coisas que eu nem imaginava. Muito bom saber dessa informação e com certeza vou repensar nas minhas ações da próxima vez que for viajar.

    1. Que ótimo, Bianca! Rumo ao turismo responsável!

  2. Que post ótimo! Também me abriu os olhos para várias informações que eu não tinha. Lembro que fiz um passeio de barco em Arraial do Cabo e na Praia do Farol cada barco só podia ficar por um determinado período de tempo, por ser uma área de proteção ambiental da marinha. Achei uma boa medida; não deixamos de conhecer e degrada a área (que é surreal de tão linda) o menos possível.

    1. Bacana, Clara! É assim que tem que ser, né?!

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