O Parque Nacional Torres del Paine, na Patagônia chilena, é um parque de diversões para os amantes da natureza com várias opções de atividades: caminhadas, camping, cavalgadas, navegação no rio e caminhadas no gelo.
Eu, meu marido e mais um casal de amigos decidimos fazer o trekking à Base das Torres e descobrimos por que todos os anos o parque atrai gente do mundo inteiro para viver essa experiência.
Neste texto você vai saber a melhor época para visitá-lo, como chegar, onde ficar, o que fazer e outras dicas que vão fazer a sua viagem a Torres del Paine uma experiência inesquecível.
Sobre o Trekking à Base das Torres del Paine
Quem gosta de trekking vai se encantar com o Parque Nacional Torres del Paine, porque é um dos melhores lugares do mundo para essa prática esportiva.
Antes de Torres del Paine, minhas caminhadas limitavam-se a poucos quilômetros e não duravam mais de 2 horas. Então, quando descobrimos que os principais trekkings eram o Circuito W (7 dias), Circuito O (8 dias) e Base das Torres (10h), não foi muito difícil descartamos as duas primeiras.
Além do planejamento da viagem, começamos seis meses antes uma preparação física. Afinal, não era “só” caminhar 18 km ao longo de um dia. Estávamos falando de fazer esse percurso com chuva, subida, sol, vento e subida com pedra. Na academia, fazia esteira com elevação e nas últimas semanas substituí o tênis pela bota de trekking para amaciar o calçado.
Embora seja considerado o trekking mais leve, para nós foi bastante puxado. Em nosso caminho, cruzamos com pessoas de várias nacionalidades e idades que andavam com a mesma tranquilidade de quem sai do quarto para a cozinha. Mas vimos também algumas pessoas que desistiram no meio do caminho.
Em alguns momentos, a gente acha que não vai dar conta; em outros, se pergunta o que tá fazendo ali. Sei que vai soar clichê, mas quando você se depara com as Torres, você sente que tudo valeu a pena, inclusive as três quedas no percurso.
Moeda e câmbio
O peso chileno é a moeda oficial do Chile, mas é possível pagar a entrada do Parque Nacional Torres del Paine com euros e dólares. Infelizmente, o real não é aceito por lá.
Embora o parque ofereça uma boa estrutura aos visitantes, ele não conta com casas de câmbio ou caixas eletrônicos. Você vai encontrá-los somente em Puerto Natales, cidade a 100 km do parque. O ideal é ter pesos chilenos sempre à mão e, caso opte em acampar, fazer a reserva com antecedência no site do parque.
Vistos e vacinas
O Chile não exige visto para brasileiros. Para entrar no país basta um passaporte válido ou carteira de identidade em bom estado de conservação e emitida há menos de dez anos.
Não há exigência para nenhum tipo de vacina, mas é importante levar consigo remédios para gripe e garganta devido ao clima frio da região.
Onde ficar?
É possível se hospedar dentro do parque, mas as diárias extrapolam facilmente os quatro dígitos. Se você não abre mão de acordar e dar de cara com as montanhas, uma alternativa é acampar no parque nas áreas autorizadas.
No nosso caso, optamos em alugar uma casa via Airbnb em Puerto Natales mesmo sabendo do deslocamento diário de 100 km entre a cidade e o parque. A casa é um charme, localizada num bairro residencial, bem equipada e pertinho de um supermercado. Pagamos R$814,49 por quatro diárias, o que dividido por quatro ficou em R$203,62.
Como chegar
Chegamos de carro a Puerto Natales, vindos de El Calafate, na Patagônia argentina. Mas a maioria dos visitantes chega à região vindo de Santiago ou Punta Arenas, essa última dista 308 km de Puerto Natales.
Saindo da capital chilena, existem voos diários (3h30min de duração) da Latam e da Sky Airlines para Punta Arenas.
Em seguida, você pode pegar um ônibus, alugar um carro ou contratar serviços de transfer até Torres del Paine, para quem se hospeda dentro do parque, ou seguir até Puerto Natales. Para os dois destinos, é só pegar a Ruta 9 e seguir a sinalização das placas.
Como andar em Torres del Paine?
Caso você use Puerto Natales como base, a melhor opção para se deslocar pelo parque é de carro. É possível fazer isso de ônibus, embora não seja nada prático nem recomendado, porque as paradas são distantes dos principais atrativos.
De ônibus
Da rodoviária de Puerto Natales partem ônibus operados pelas empresas Bus Sur, Buses Maria José e Buses Gomes. O valor da passagem/ trecho é 8.000 pesos chilenos (R$45,00) ou 15.000 pesos chilenos (R$85,00) ida e volta. Dentro do parque, existem três paradas:
- Portería Laguna Amarga: descida obrigatória para a compra do ingresso do parque;
- Zona Pudeto: de onde saem passeios de barco;
- Sede Administrativa.
De carro
Existem três acessos ao parque: Portería Rio Serrano, Portería Sarmiento e Portería Laguna Amarga. A primeira, mais perto de Puerto Natales uns 30 km, não está cadastrada no Google Maps, mas não tem erro. É só continuar na estrada que dá acesso à Cueva del Milodón. Ela é o caminho mais rápido para quem vai visitar o Lago Grey.
A Portería Sarmiento é o principal acesso ao parque e a Portería Laguna Amarga é ideal para quem vai fazer a caminhada até a Base das Torres.
É fácil dirigir dentro do parque, mas é preciso reservar ¼ do tanque para voltar a Puerto Natales. Não há posto de combustível dentro do parque e é importante respeitar o limite de velocidade de 60 km/h para evitar acidentes com outros veículos e animais.
A sinalização do parque é muito boa, mas nem por isso abra mão do mapa que você recebe na bilheteria. Além de orientar a navegação, ele vem com informações muito úteis sobre Torres del Paine.
Roteiro de 3 dias
Se você deseja fazer essa viagem, veja abaixo o roteiro que preparamos para 3 dias na região de Torres Del Paine.
Dia 1: Puerto Natales
Primeiro, fizemos um passeio pela orla da cidade, com paradas no Monumento al Viento – de onde se tem uma bela vista das montanhas contornando o Fiorde Última Esperanza –, e na Estátua de La Mano, uma réplica do Monumento al Ahogado, de Punta del Este, no Uruguai.
Depois, almoçamos e seguimos para o Monumento Natural Cueva del Milodón, a 25 km de Puerto Natales. Ele é formado por três cavernas e pela formação rochosa Cadeira do Diabo.
No final do século 19, foram encontrados peles e ossos do milodón, um parente da preguiça-gigante. A visita dura umas 2h e é uma programação voltada para todas as idades. Valor do ingresso: 5 mil pesos chilenos/ 28 reais.
Dia 2: Trekking à Base das Torres del Paine
No segundo dia, saímos de Puerto Natales às 8h para o Parque Nacional Torres del Paine e às 9h começamos o trekking.
Normalmente, as pessoas levam entre 8h e 10h para fazer o percurso completo do trekking para a Base das Torres. Nosso grupo conseguiu a “proeza” de fazer em 11h30min. Só não saímos do parque no escuro porque no verão os dias chegam a ter 18 h de luz solar.
1ª parte
O trekking começa no Refúgio Las Torres que, além da área de camping, conta com uma estrutura de alimentação, banheiros e informação aos visitantes. Até chegarmos ao Refúgio Chileno são 5 km de subida, com muitos trechos íngremes e estreitos. A caminhada não é fácil, mas as paisagens são de tirar o fôlego. Duração: 2h
2ª parte
O Refúgio Chileno é uma área de camping com estrutura de alimentação e banheiros. Passamos uns 30 minutos comendo e descansando para em seguida fazer a trilha por um bosque com trechos planos e arborizados. É o trecho mais light do trekking. Duração: 1h.
3ª parte
Na medida em que as árvores do bosque dão lugar a pedras, você percebe que chegou a parte mais difícil do trekking. Não é nada fácil encarar uma subida com pedras. Em alguns momentos você terá que escalá-las e, por isso, é muito importante ir com cuidado, de preferência pisando nos mesmos pontos que as pessoas que estão a sua frente.
No final, a recompensa é um lago esverdeado com as Torres del Paine ao fundo. Você poderá ficar por lá o tempo que quiser, mas o ideal é não passar das 16h tendo em vista que você terá que encarar novamente 9 km.
Dia 3: Torres del Paine de carro
Depois de toda energia gasta no trekking, a gente optou em conhecer o restante do parque de carro. Começamos nosso tour pela Cascada Paine, uma queda d’água que nos impressionou pelo seu volume e pela força do vento. Lá, nós entendemos o valor de um casaco corta-vento.
Nossa próxima parada foi o Mirador Nordenskjold, onde já foram registrados ventos de 120 km/h. Não acredito que chegamos a tanto, mas foi difícil se manter parado no local.
Nossa próxima parada seria o Salto Grande, outra queda d’água, mas, logo depois de chegarmos ao local, as guardas-florestais fecharam o acesso ao local por causa da ventania.
Seguimos para o Glaciar Grey, com uma parada no charmoso Lago Pehoé. A paisagem do glaciar difere de tudo que vimos no parque. O cinza se faz presente no céu, na água e na terra.
É muito doido imaginar que, a poucos quilômetros dali, o céu é azul e a vegetação verde. É possível pegar um barco e se aproximar da geleira. No entanto, optamos em fazer uma trilha de 2 km até o Lago Grey, de onde observamos o bloco de gelo.
Quando ir?
Em boa parte do ano, o clima é bem instável, o que significa que você pode ter as quatro estações no mesmo dia. A melhor época para visitá-lo é no verão, quando os dias são mais longos – podendo a chegar a 18h de luz solar, o que contribui para a prática dos trekkings – e as temperaturas variam de 6 a 12 graus.
No inverno, prepare-se para encarar temperaturas negativas e dias com apenas 7h de luz solar. Independentemente da época do ano, o cuidado com as roupas é fundamental, pois os ventos são fortes e as temperaturas baixas.
É importante levar segundas peles, capas de chuva, casacos corta-vento, calças impermeáveis, botas de trekking à prova d’água, luvas, óculos escuros e protetor solar.
Quanto tempo ficar?
Se o seu objetivo é fazer o trekking à Base das Torres, reserve pelo menos três dias. Um para a caminhada propriamente dita, outro para conhecer os demais atrativos do parque e um terceiro dia para possíveis imprevistos (às vezes o tempo não ajuda e é preciso alterar a data do trekking).
Afinal, ninguém quer encarar os 9km de caminhada e dar de cara com as Torres encobertas por nuvens e neblina. Na Portería Laguna Amarga, onde se compra o ingresso do parque, é possível checar o clima e o vento no parque para os próximos cinco dias.
Onde comer?
Dentro do parque há restaurantes e cafeterias em pontos estratégicos, a exemplo da área que dá acesso ao Glaciar Grey, do Refúgio Las Torres (cafeteria) e do Refúgio Chileno (área de camping).
No entanto, para quem vai fazer a caminhada, a dica é levar seu próprio lanche. Carregamos uma pequena bolsa térmica com dois sanduíches para cada, acompanhados de sucos de caixinha e chocolates.
Para não sobrecarregar ninguém, revezávamos a bolsa entre os quatro. Fizemos duas paradas estratégicas para o lanche no Refúgio Chileno, onde utilizamos também os banheiros.
Quanto custa?
Para saber quanto custa conhecer a Torres del Paine, veja os nossos gastos com a viagem. Os valores em reais são de dezembro/ 2018:
- hospedagem: R$814,49 por quatro diárias, o que dividido por quatro ficou em R$203,62;
- passagem aérea entre Recife/ Buenos Aires/ El Cafalate/ Buenos Aires/ Recife: R$2.479,58;
- passeios: a entrada do parque é 21 mil pesos chilenos (R$118) e vale por três dias;
- alimentação: R$300;
- transporte: R$243/ diária de um Classic/ Chevrolet. Total para quatro dias: R$972, o que dividido por quatro ficou R$243;
- total: R$3.343,58.
Dicas e curiosidades
Está animado para planejar a sua viagem? Então, veja algumas dicas e curiosidades que percebi durante a minha ida para Torres del Paine:
- Não há necessidade de contratar guia para o trekking. O parque é bem sinalizado e durante todo o percurso sempre cruzamos com outras pessoas;
- Programe-se para começar o trekking, no máximo, às 10h para que você tenha tempo de sobra para eventuais perrengues e atrasos;
- Não é preciso alugar um 4×4 para andar pelo parque. O nosso carro era um Classic 1.0;
- Voltagem: 220V;
- Tomadas: são de três pontas redondas;
- Internet: o sinal do parque é bem fraco. Lembre-se de salvar os mapas offline no celular;
- Fuso horário: – 1h de abril a agosto e horário de Brasília de setembro a março.
Gostou deste texto? Se quiser saber como é caminhar sobre uma geleira, confira o meu relato!
Sabrina Albuquerque