Os sujeitos africanos escravizados e seus descendentes foram fundamentais na construção do nosso país. Para conhecer melhor a história e cultura negra do Brasil, existem 4 destinos que valem a pena ser visitados.
A maioria da população brasileira é negra – 56,10%, de acordo com o IBGE. Por outro lado, muitos não conhecem a história dos próprios ancestrais e as diferentes formas de resistência negra que seguem até os dias de hoje.
Segundo o Ministério do Turismo, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Alagoas são alguns dos estados mais influenciados pela cultura negra. Neste artigo, vou falar sobre 4 lugares que você pode conhecer nesses estados e, assim, valorizar e reconhecer a importância dos africanos e afrodescendentes para o Brasil.
1. São Paulo (SP)
A metrópole paulista tem diversos lugares que representam a história e cultura negra do nosso país. Um deles é o Museu Afro Brasil, que fica no Parque Ibirapuera.
Ele foi inaugurado em 2004 e tem como objetivo a valorização do patrimônio cultural africano e afro-brasileiro. Por lá, as exposições mesclam áreas como memória, história e arte.
Além do museu, SP tem um quilombo urbano conhecido como Aparelha Luzia, funcionando como um centro cultural e político. O local exibe quadros e fotografias de artistas negros, trilha sonora que prioriza a MPB, cardápio que varia a cada noite.
Aparelha Luzia conta com programação de filmes, shows e exposições, mas também há dias em que nenhum evento acontece e o pessoal apenas bebe ou come no local.
A capital também abriga igrejas que foram erguidas pelos escravizados. Uma delas é a Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte, construída em 1728 pela Irmandade dos Homens Pardos de Nossa Senhora da Boa Morte.
O nome dessa igreja deriva do hábito dos escravizados condenados à morte no Largo da Forca (atualmente Largo da Liberdade) entrarem na igreja e solicitarem uma boa morte para a Nossa Senhora.
Existe também a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, construída em 1906, cujos trabalhos continuam nas mãos da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. A entidade luta há mais de 300 anos para preservar a cultura negra.
Em 1995, construíram uma estátua de Mãe Preta ao lado da igreja e, a cada dois meses, acontece uma missa afro na igreja.
2. Rio de Janeiro (RJ)
A cidade do Rio também é um lugar de importante preservação e resgate à cultura negra. No centro se localiza o Cais do Valongo, local onde os escravizados africanos desembarcaram. A estimativa é que cerca de um milhão de pessoas tenham chegado ali ao longo dos séculos de escravidão.
Atualmente, esse lugar é um sítio arqueológico e é considerado um dos locais mais importantes da América do Sul relacionados à chegada dos sujeitos escravizados africanos.
O centro da cidade também conta com o Instituto Pesquisa e Memória Pretos Novos, onde existe o Museu Memorial e a Galeria de Arte Pretos Novos.
Em 1996, um casal descobriu que a sua casa foi construída em cima de um antigo cemitério, onde eram despejados, uns por cima dos outros, os corpos dos chamados pretos novos, sujeitos escravizados que chegavam mortos no Brasil ou morriam logo após o desembarque.
Você também pode conhecer o Centro de Referência da Cultura Brasileira, que fica dentro do Centro Cultural José Bonifácio. Esse local reúne exposições, espetáculos, cursos e bibliotecas ligadas à história e cultura negra.
Também no centro está a Pedra do Sal, onde acontece uma das mais tradicionais rodas de samba da cidade. Durante o século XVII, o sal era descarregado nesse local pelos escravizados. Por essa região, alguns negros alforriados de outras partes do Brasil eram abrigados e se reuniam para jogar capoeira e dançar jongo.
3. Salvador (BA)
Eu não poderia, é claro, deixar de citar Salvador, a cidade com mais negros fora do continente africano, também chamada de “Meca Negra”. O Pelourinho, importante cartão postal da região, não tem um passado tão vibrante e alegre como hoje. Afinal, o pelourinho foi uma forma de punição na qual os escravizados eram amarrados e chicoteados.
No Pelourinho existe o Museu Afro-Brasileiro, que abriga um acervo com mais de 1.100 peças relacionadas à cultura africana e afro-brasileira, como instrumentos musicais e cerâmicas.
Construído no século XVII, o Forte da Capoeira, cujo nome oficial é Forte de Santo Antônio Além do Carmo, atualmente é um espaço cultural voltado para a prática da Capoeira, estilo de luta que veio para o nosso país com a chegada dos africanos.
Quanto à gastronomia, Salvador preserva pratos típicos de origem africana, como a acarajé, caruru e vatapá. Sem dúvidas, conhecer essa cidade é conhecer a história e cultura negra em um nível bem profundo.
4. União dos Palmares (AL)
União dos Palmares foi o local que abrigou o maior quilombo não só do Brasil como de toda a América, sendo liderado por duas principais figuras: Ganga Zumba e Zumbi. O Quilombo dos Palmares foi formado por escravizados fugitivos, indígenas e brancos pobres que foram expulsos das fazendas. Ao todo, o quilombo teve 30 mil pessoas divididas em 11 povoados diferentes.
Atualmente, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares se tornou um importante atrativo turístico para quem deseja conhecer de perto um dos principais símbolos de resistência negra. O local fica a 80 km de Maceió, então é relativamente próximo da capital de Alagoas.
Zumbi dos Palmares foi um alagoano que nasceu livre, mas foi escravizado aos seis anos. No dia 20 de novembro de 1695, ele foi assassinado. Com a Lei nº 12.519/11, foi instituído o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra no dia 20 de novembro.
Visitar esses lugares é resgatar e preservar a memória de um povo que sofreu as piores mazelas que os seres humanos já passaram. É reconhecer a importância da ancestralidade africana e lutar para que ela permaneça viva entre nós.
Além de conhecer um pouco mais sobre os destinos de cultura e história negra, recomendo que vocês leiam este artigo sobre viajantes negras inspiradoras.