Viajar para a Europa e visitar 10 cidades em 15 dias. É possível conhecer os destinos com calma desse jeito? Acredito que a resposta você já saiba. Por isso, o slow travel nasceu como contraponto a esse estilo de viagem rápido e sem imersão.
Muitas vezes, as pessoas estão mais preocupadas em dar o “check” nos lugares visitados em vez de aproveitar apenas um deles com qualidade e sem pressa. Fato é que a rotina corrida acaba influenciando o modo de viajar: existe o desejo de fazer tudo e mais um pouco no menor tempo possível.
Com o slow travel, você consegue repensar se esse modo de viajar faz realmente sentido para a sua vida. Neste texto, vou falar sobre esse conceito (ou melhor, filosofia de vida) e por que ele tem sido tão benéfico para os viajantes. Acompanhe a leitura!
O que é slow travel?
O slow travel se inspirou no slow food, criado em 1980 na Itália. Na época, surgiu a proposta de abrir um Mc Donald’s em Roma, porém isso logo deu origem a protestos contra esse plano.
O slow food tem como foco as comidas e produtos locais, preparações tradicionais, refeições comunitárias, incentivando as pessoas a estarem presentes naquele momento, seja no preparo, seja durante o consumo da refeição.
Logo, é completamente oposto ao fast food, em que o preparo é feito mecanicamente, assim como o consumo. Além disso, as comidas são processadas e produzidas para que as pessoas comam individualmente.
A lógica do slow travel é semelhante à do slow food: aproveitar o local visitado sem pressa, com maior imersão, em contato com o ambiente e com as pessoas ao redor, sem necessidade de visitar os principais (ou todos) pontos turísticos de forma rápida.
Afinal, quem disse que aproveitar uma viagem é visitar o máximo de pontos turísticos possíveis no destino? Ou conhecer o máximo de cidades dentro da região? Ou países?
Malefícios do fast travel
O fast travel pode ser muito rígido e ter o resultado oposto do que as pessoas geralmente desejam quando vão viajar, que é a diversão, recebendo a frustração por não conseguir ver tudo ou o cansaço e estresse por ter feito isso.
Confesso que conheci o slow travel recentemente ao procurar temas para escrever no blog. Eu sempre fui a viajante que faz um roteiro e acredita que precisa segui-lo à risca. Se eu não consigo, me frustro e acredito que estou perdendo alguma coisa – a expressão FoMO (Fear of Missing Out) define bem isso que, em português, significa “medo de ficar de fora”.
Por isso, não é difícil que, vez ou outra, eu me estresse porque algo saiu do controle durante a viagem. Assim, percebi que eu quero controlar não só a minha rotina como também o que precisa acontecer durante as minhas viagens.
Então, eu descobri que sou muito rígida comigo mesma até quando o meu maior desejo é sair da rotina e relaxar. Por que a pressa em conhecer tudo? Por que conhecer tudo? Essas foram algumas das perguntas que eu me fiz ao me deparar com o slow travel. Não vejo a hora dessa pandemia passar para eu tentar colocar essa filosofia em prática.
Quais são as vantagens do slow travel?
Adotar esse estilo de viagem apresenta diversas vantagens para os viajantes, para os habitantes e, inclusive, para o meio ambiente. Entenda melhor a seguir.
Menos dinheiro gasto na viagem
Geralmente, um roteiro fechado com várias atrações turísticas também inclui uma grana significativa com deslocamento e ingresso, certo? Com o slow travel, é possível economizar bastante, já que os dias não precisam são cheios de atividades.
Além disso, você não precisa se hospedar no centro, onde costuma ser mais caro, pode comer em restaurantes menos conhecidos ou, até mesmo, comprar produtos locais e cozinhar.
Isso traz, inclusive, uma sensação de já ser morador, né? Falando nisso, ao focar em conhecer melhor o bairro e a cidade, você consegue pegar dicas valiosas com os habitantes e fugir de furadas que são comuns entre os turistas.
Turismo consciente
O slow travel tem direta relação com o turismo consciente. Nesse estilo de viagem, são priorizados transportes públicos e caminhadas, em vez de andar de carro ou Uber.
Afinal, como você não faz grandes deslocamentos, esses meios de transporte se tornam desnecessários. No fast travel, acontece justamente o contrário: os turistas andam para lá e para cá de Uber ou alugam um carro para facilitar a locomoção.
Surpresas positivas
Fazer roteiros para viajar pode ser bom para ter um norte sobre o que fazer no destino, mas você não precisa ficar preso a ele. Segundo o slow travel, é importante ser flexível e estar aberto aos imprevistos.
Geralmente, as pessoas veem o imprevisto como algo bem ruim, né? Mas ele pode ser uma surpresa positiva. Isso já aconteceu comigo algumas vezes e, hoje, vejo que ser rigorosa até com cronograma de viagem não faz o menor sentido.
Você não precisa ocupar todos os seus dias com atrações pelo destino. Por que não deixar a vida surpreender?
Reflexão sobre a realidade social da cidade
Se você fizer um roteiro engessado sobre o destino, existem grandes chances de conhecer apenas o lado turístico da cidade e não o social. Ou seja, ver apenas a parte camuflada e feita para o turista frequentar.
Caso esse seja o tipo de viagem que você prefira, tudo bem, mas saiba que refletir sobre a realidade social do local desmistifica aquele olhar romantizado que, muitas vezes, os turistas têm sobre o lugar que estão visitando.
E isso é fundamental para refletir também sobre as ações individuais como viajantes e por que o modo como o turismo é geralmente praticado precisa ser repensado.
Menos ansiedade e estresse
Como disse no tópico anterior, o slow travel veio para quebrar a ideia de que os turistas devem fazer todos os passeios e, caso não façam, estão perdendo alguma coisa e a viagem não foi bem aproveitada.
Isso gera constante ansiedade em querer visitar os lugares sem, de fato, entender por que desejam visitá-los. Será que você realmente quer estar ali ou acredita que precisa estar?
Talvez, o que a sua amiga (e meio mundo) fez durante a viagem tenha agradado a ela, mas não necessariamente vai interessar você – e tudo bem!
Caso a sua viagem seja programada de um jeito inflexível, é bem provável que você se estresse por perceber que não consegue controlar tudo. Imprevistos acontecem e o melhor jeito de lidar com isso é aceitando que eles existem e, sim, podem acontecer durante a sua viagem dos sonhos. Mas isso não significa que ela será ruim por causa disso.
A filosofia do slow travel ensina a fazer as viagens com calma, a estar aberto ao que pode acontecer e a ter maior contato com o local e com os habitantes. Não existe jeito certo ou errado de viajar, mas é necessário escolher aquele que faça mais sentido para você. Ou seja, o que faça bem e traga mais retornos positivos. Afinal, é para isso que nós viajamos, certo?
Gostou deste texto? Ultimamente, eu tenho refletido bastante sobre a forma como o turismo é praticado e tenho tentado trazer isso para o blog. Inclusive fiz um post sobre o overtourism, que é o turismo de massa. Confira!