As pessoas negras são afetadas pelo racismo em todos os âmbitos da vida, incluindo o lazer, ou melhor, o turismo. Sim, até quando queremos viajar, estamos suscetíveis a sofrer microagressões (discriminações de modo mais sutil) ou atitudes racistas escancaradas.
Alguns dos casos mais comuns são as revistas-nada-aleatórias nos aeroportos e olhares de estranheza quando um corpo negro está inserido num local majoritariamente branco.
Por causa de tudo isso, vem sendo criado um turismo antirracista, movimentado liderado por militantes negros inseridos dentro desse setor. Neste artigo, vou falar melhor sobre esses assuntos.
Conceitualizando o racismo
O racismo é uma forma de discriminação baseada na cor ou etnia do outro, que pode ser negro, amarelo, indígena etc. Nesse contexto, é como se a cor branca estivesse no topo da pirâmide dos privilégios e as demais cores ficassem abaixo.
Desde a colonização, o racismo está presente no nosso país, quando indígenas e negros africanos foram explorados e torturados pelos brancos. A crença na superioridade branca existe até hoje, por isso o racismo segue presente.
Como a sociedade brasileira foi construída com princípios racistas, o racismo é algo estrutural e perpassa todos os âmbitos da vida de uma pessoa: relacionamentos amorosos, empregos, círculos familiares, vida escolar, círculos de amizades.
E isso também inclui o lazer. Ou seja, o racismo não descansa nem quando queremos apenas nos divertir.
Atos racistas em viagens
Você, pessoa branca, talvez nem imagine o que o viajante negro passa no mundo do turismo. São tantas práticas racistas que fica praticamente impossível falar sobre todas elas, mas vou elencar alguns exemplos.
Sabe quando acontecem revistas supostamente aleatórias no aeroporto? Então, isso é bem comum com os negros. Aliás, é frequente que sejam até escolhidos para fazer o teste anti-bomba. Afinal, apenas pelo tom de pele, eles já são considerados suspeitos.
Além disso, em aeroportos, os viajantes negros podem ser questionados por funcionários da companhia aérea caso estejam na fila da classe executiva. Sim, eles perguntam se a pessoa sabe que está na fila da classe executiva. Como você pode ver, a branquitude estabelece o lugar do negro no mundo. Joshua Dwain, fotógrafo de casamentos, contou essa experiência para o portal da Huffpost.
Outro exemplo: abordagens policiais no meio da rua. O Guilherme Dias, jornalista e viajante, contou que foi abordado em uma rua em Veneza. Os policiais fizeram várias perguntas (“quando chegou? Onde está hospedado?) e, no fim, anotaram o nome dele numa ficha. Você já viu isso acontecendo com uma pessoa branca?
Também é comum que viajantes negros recebam olhares atravessados ao caminhar na rua ou entrar em lojas. Aliás, ser bem tratado em lojas é quase um desafio. Não somos vistos como possíveis compradores daquele lugar – e isso não acontece só no exterior, não. Pior ainda é quando somos vistos como ameaças e, por isso, somos seguidos por seguranças.
Nas lojas também é comum que os funcionários direcionem o cliente negro para a seção de promoção mesmo sem ele ter pedido. Ou seja, já presume que ele não tem renda suficiente para comprar os itens mais caros.
Outra cena comum é o viajante negro estar em uma loja e ser confundido como um funcionário do local.
Além das microagressões, existem as agressões. A Paula Augot contou para a Revista Trip que sofreu ataques racistas na Finlândia, sendo chamada de serviçal e ameaçada visualmente por um homem que simulou estar com uma arma no casaco.
As mulheres negras também sofrem outros tipos de atos racistas. Isso acontece porque elas são hiperssexualizadas e, dependendo do país que estejam visitando, o assédio se torna ainda mais frequente.
Esses são apenas alguns exemplos do que os viajantes negros passam apenas por existirem. O turismo é extremamente racista, porque a sociedade é racista.
O turismo antirracista é possível
Quem é negro certamente conhece o sentimento de receio ao querer visitar um país onde existem pouquíssimas pessoas negras. É o medo de ser atacado, mal tratado, invisibilizado. Por isso, é importante buscar inspirações que tenham atravessado o mundo sem se sentirem impedidas pelo racismo.
Além disso, para as pessoas pretas, acredito que um dos caminhos para expandir a consciência como um corpo negro no mundo é conhecer lugares negros.
Atualmente, existem vários movimentos que têm como objetivo valorizar a cultura e história afro-brasileira, então por que não usufruir disso? Alguns exemplos são a Diaspora.black, Black bird Viagem e Brafrika Viagens.
Esses movimentos têm mostrado que um turismo antirracista é possível. No entanto, a hegemonia branca não está muito interessada nisso. Felizmente, existem pretos e pretas que nadam contra a maré e provam que existem novas possibilidades de praticar o turismo.
Se quiser saber mais sobre esse assunto, veja o artigo que eu escrevi sobre o turismo étnico!